quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sintoma



Hoje acordei um pouco mal. Levanto-me, sempre do mesmo lado da cama, logo após desligo o ventilador do meu pacato quarto e, como de costume, olho-me no espelho. Percebo uma diferença. Uma diferença que jamais eu percebi.

Notei que eu estou doente. Doente por dentro. O espelho não mostra, mas o meu olhar, o meu semblante, estes sim, me mostram claramente a minha real situação. Eu era gay, sou, e não sabia. Que doença maldita!

É como o câncer com suas devidas proporções resguardas. Ela domina o seu corpo quando você não a combate na fase inicial. Trás as mesmas consequências: muda a sua rotina, o seu modo de pensar. Também muda a forma com que as pessoas, quando sabem, ou percebem a sua enfermidade, labutam com você. Tratam-te de forma diferente e, claro, ao descobrirem, por mais que desconfiassem (devido a seus hábitos, gestos e ideias), demonstram-se surpresas. Contudo, felizmente, o câncer ainda é uma doença que tem cura. A homossexualidade não. Afinal, ora bolas, onde já se viu cura para onde não há uma doença? Vai agir contra o que inexiste? Nem a física explica tal.

Mas é difícil colocar esta resposta na mente de cabeças tão retrógradas, medievais e repressoras. Não é comum para estes, que por tanto tempo se basearam em histórias e mandamentos confusos e até mesmo incoerentes, que a orientação sexual de um ser humano - ou até de um golfinho - não foram escolhas ingênuas feitas durante a puberdade, tampouco visando alimentar o seus respectivos libidos.

Minha doença, eu mesmo trato. Na verdade, eu a alimento. E sabe por quê? Porque é uma doença que me liberta, que mesmo já multiplicada integralmente dentro de mim, é a mais fiel representação do que eu verdadeiramente sou. Sem esquecer que é uma enfermidade que me mantém e me felicita.

E juro: o preconceito não será uma vacina que vai curá-la. Pelo contrário, apenas irá me motivar cada vez mais a ser doente.

Ou não é meu direito ser doente?

3 comentários :

  1. Eu acho que você viu foi o contrário: foi alguém saudável demais!

    Doente é quem tem como motivação de vida atrapalhar a vida dos outros. Isso sim é doença e pior... é contagiante! Mas só pega quem quer. E acho que aqui ninguém quer ficar doente, né?

    Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Vinícius,

    Com certeza. Concordo contigo. Mas, olhando pela visão ignorante de certas pessoas, a nossa "doença" é algo a ser combatido. Como se realmente fosse uma enfermidade, algo que prejudique a quem a tem ou a quem não tem nada a ver com a sexualidade alheia.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  3. Uma das mais incríveis doenças que precisam de tratamento urgente é o preconceito. Além do medo (fobia), eu acho que a preguiça de pensar é que alimenta essa doença. Por isso dou o meu apoio a todas as iniciativas positivas neste sentido, como essa de criar um blog e expor os seus pensamentos. Parabéns! Prometo voltar aqui com frequência. Abraço!

    ResponderExcluir

Comente o que achou, se isto lhe arremeteu a algo ou se tem a ver com a sua pessoa. Este mundo aqui é seu.