domingo, 5 de janeiro de 2014

Achismos conclusos



Lá por volta dos meus 16 anos, me descobri gay. Eu já me sentia meio gay, mas meu achismo foi concluso e certo: de fato, eu era gay, só bastava eu começar a acreditar nisto.

Com o passar do tempo, fui me acostumando com a ideia, que, há um certo tempo, era absurda e impraticável.

Para qualquer garoto gay, deve ser assim. Primeiro vem sua autoaceitação, depois vem a labutação com sua autoaceitação. Tempos depois, chega o momento que você se assume para você mesmo e percebe que, realmente, você é uma bichinha.

Muito se fala sobre a aceitação dos amigos, da família, dos pais e blá-blá-blá. Mas pouco se fala sobre o que vem antes disso: sua autoaceitação.

A autoaceitação é como se fosse um argumento seu dentro de um debate qualquer. Para você construir e fundamentar seu argumento, primordialmente, você deve acreditar nele para que depois você tente abordá-lo da melhor maneira possível ao ponto de fazer com que outros o levem à aceitação. Ou seja, o que quero dizer é que é tão importante se aceitar primeiro do que esperar que os outros lhe aceitem. Você precisa acreditar que é gay, que tem convicção disso e que nada fará você mudar de ideia acerca disso.

Com o recente término do meu relacionamento, com todo aquele sofrimento e nervos à flor da pele, acabei me assumindo para um ente: minha irmã favorita. Mesmo sempre querendo evitar isso, não teve jeito: no calor da emoção, na pressão das perguntas auxiliadoras, nas incógnitas após um sofrimento por causa de "uma briguinha de amigos", eu tinha de apresentar uma resposta. E não só afirmei que era gay, como também afirmei que namorava com um menino que um dia desse era amigo da minha irmã, aquele mesmo que frequentava a casa dela comigo e que ela desconfiava, mas não ousava em confirmar.

Dizem que por mais que tentemos, as pessoas mais próximas sempre desconfiam de algo. Seja por causa do jeito, das afirmações, do apego a um "amigo" que apareceu do nada... Enfim, é meio difícil esconder o jogo tão bem escondido.

Minha mãe já se foi, mas aposto que ela já teria se tocado desde cedo. Dizem também que "mães sempre sabem".

Minha irmã agora sabe. Nada mudou, nada piorou, nada melhorou. Foi tão normal... Mas pensando bem: se nada muda, pra que quero contar? A sexualidade é minha, e com ela eu faço o que bem entender. E isto inclui omiti-la simplesmente porque acho desnecessário pendurar a "plaquinha" no pescoço dizendo o que sou.

No fim de tudo, a gente descobre que os achismos só precisam ser conclusos. Não para a gente, por causa da coisa da autoaceitação, mas para os outros, e isto não quer dizer que sejamos obrigados a conclui-los.

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